Contra-Reforma


A reação oficial da Igreja Católica foi lenta e, a princípio, desarticulada. Carlos V, imperador da Alemanha e rei de Espanha e Nápoles, desempenhou um papel de especial relevo nas conseqüências políticas da Reforma protestante. Sua tradicional rivalidade com a monarquia francesa impediu a aliança entre os dois reinos mais próximos à igreja romana. Não obstante, e apesar das pressões exercidas pelos príncipes da igreja e das enormes dificuldades que cercaram a realização do Concílio de Trento, como reflete a cronologia de suas três etapas (1545-1549, 1551-1552, 1562-1563), a firmeza dos teólogos e dos papas conseguiu, ainda que tardiamente, o resultado esperado: deter a propagação da Reforma protestante, e instaurar, de forma orgânica e oficial, uma Reforma católica.

A primeira fase do concílio, convocada pelo papa Paulo III, reuniu grupos de teólogos, nomeou cardeais dignos, impulsionou as novas ordens religiosas dos teatinos (fundada em 1524 por Gian Pietro Carafa, futuro Paulo IV, e são Caetano de Triana), das ursulinas e da Companhia de Jesus (criada em 1534 por santo Inácio de Loiola), e restabeleceu em 1542 o tribunal da Inquisição, que se converteu em um dos instrumentos mais valiosos da Reforma católica. Júlio III, que subiu ao trono de são Pedro em 1550, continuou com prudência o trabalho de seu antecessor e conseguiu retomar, em 1551, o concílio interrompido.

Paulo IV, que sucedeu a Júlio III, foi um asceta que logrou banir da corte pontifícia o espírito mundano, obrigou os bispos a renunciar a suas múltiplas prebendas e a regressar a suas dioceses; não obstante, sua personalidade inflexível levou-o a uma total intransigência com os mesmos príncipes que poderiam ajudá-lo na pacificação da cristandade e na implantação das reformas. Em compensação, seu sucessor, Pio IV, foi moderado e conciliador e conseguiu implantar a paz entre as potências cristãs e concluir o Concílio de Trento.

O concílio ocupou-se dos grandes problemas do momento, os doutrinários e os disciplinares. Em relação à doutrina, cumpria dar resposta às assertivas dos protestantes e esclarecer o conceito católico de igreja. O conclave afirmou o valor das Sagradas Escrituras, também a importância da tradição eclesiástica como fonte da fé; a liberdade do homem, não destruída pelo pecado original; a justificação pela fé e pelas boas obras; e a revalorização dos sacramentos, em especial os do sacerdócio ministerial, da eucaristia e da confissão. Os direitos disciplinares ocuparam-se da colação de cargos eclesiásticos, da residência dos bispos nas dioceses, dos concílios provinciais e da formação nos seminários.

Entre 1566 e 1590 Pio V, Gregório XIII e Sisto V puseram em prática a Reforma elaborada pelo concílio, não somente com medidas disciplinares, como também, e principalmente, mediante a renovação do ensino, dos seminários e das práticas da vida religiosa. A Contra-Reforma tornou-se realidade e encontrou instrumentos valiosos no trabalho dos teólogos e reformadores da vida monástica, religiosa e secular que floresceram sob o impulso da renovação da Igreja Católica. Entre os teólogos, o jesuíta Roberto Belarmino distinguiu-se por suas críticas às doutrinas reformistas. Entre os reformadores, destacaram-se Pio V e são Carlos Borromeu, que reformaram a cúria romana. Igualmente importante foi a Companhia de Jesus, um dos grandes pilares da Contra-Reforma, com seus teólogos, colégios e missionários.

Como reação à proibição do culto às imagens pela Reforma protestante, a Igreja Católica promoveu o ensino através das imagens. Essa promoção, ao lado do desenvolvimento da piedade popular e da superação das formas cortesãs do Renascimento e de seu estilo artístico mais racional, deu origem, principalmente na Itália e na Espanha, ao chamado estilo barroco.

Os temas da escultura e da pintura barroca são fundamentalmente religiosos, em contraste com os temas mitológicos do Renascimento. Exaltam o triunfo da fé, do pontificado, dos mártires e dos santos. Predominam os momentos patéticos, como os de Gian Lorenzo Bernini, e os místicos, como os de Tintoretto ou os de El Greco.

Na arquitetura, o estilo da Contra-Reforma se denominou "jesuítico", por seguir o estilo que o arquiteto italiano Giacomo da Vignola imprimiu à igreja de Gesu, de Roma, e por coincidir com a rápida expansão da Companhia de Jesus. A conjunção de arte e teologia foi mais uma evidência de que a mudança da igreja havia chegado ao povo

     
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