Sofistas


O movimento intelectual dos sofistas, menosprezado durante séculos com base nas críticas de Platão e Aristóteles, foi reavaliado a partir do século XIX e passou a ser entendido como estágio crucial para a evolução do pensamento grego.

A designação sofista, que significa "mestre da sabedoria", aplica-se a um conjunto de oradores e pensadores surgidos na segunda metade do século V a.C. em diversas partes da Grécia, mas sobretudo em Atenas. Em comum, tinham o fato de exercerem o ensino de forma profissional e remunerada. Na maioria eram professores itinerantes que encaminhavam os jovens na vida pública e gozavam de grande prestígio social.

A atuação dos sofistas representou drástica renovação da cultura e da educação helênicas. Essa influência, embora em declínio, perdurou até o século IV a.C. Um movimento de escritores gregos, a escola da Segunda Sofística, teve lugar no século II a.C., mas não se caracterizou pela profundidade ou originalidade de pensamento, e sim pela nostalgia.

O aparecimento dos sofistas foi resultado de profunda crise do mundo grego, motivada por circunstâncias internas e externas. Ao se aprofundarem os conhecimentos sobre as civilizações orientais, surgiram novos horizontes e incentivou-se o intercâmbio cultural. Internamente, os regimes aristocráticos desmoronavam por toda a Grécia e cediam lugar à democracia, a qual exigia do cidadão que se manifestasse em praça pública e que estivesse apto a convencer seus pares do ponto de vista que defendesse. Com isso, consolidava-se uma burguesia desejosa de adquirir um saber que antes lhe era interdito.

A princípio reconheceu-se que, mesmo enquanto diferentes sociedades expressassem visões de mundo radicalmente diversas sobre questões fundamentais, todos os povos partilhavam a mesma natureza humana. A partir dessa premissa, surgiu a antítese entre natureza e costume, tradição e lei. O costume podia ser visto como instrumento artificial para restringir a liberdade natural, ou como restrição benéfica e civilizada sobre a anarquia natural. Ambas as visões foram representadas entre os sofistas, embora a primeira prevalecesse. A sofística propôs, então, uma "humanização" da cultura, na qual o estudo de ciências teóricas e práticas estivesse encaminhado para a busca da virtude, entendida como adequação à ordem social.

O relativismo do pensamento sofista, no entanto, impediu uma formulação universal do que fosse a virtude. Essa limitação conduziu pouco a pouco os sofistas a privilegiarem o ensino da dialética e da retórica não mais como formas de descobrir a verdade, mas como forma de fazer prevalecer a argumentação própria em detrimento da contrária ou, em outras palavras, de triunfar na vida política e social.

Esse interesse pragmático foi comum entre os pensadores da primeira geração de sofistas: Protágoras, Górgias, Pródico e Hípias. Entre eles, destacam-se a rejeição à tradição, a relatividade dos critérios morais e epistemológicos, como por exemplo a negação da existência de verdades absolutas, e a ênfase nos problemas da vida cotidiana. A Protágoras, por exemplo, deve-se a célebre máxima "o homem é a medida de todas as coisas". Em parte por obra de Górgias, mas principalmente dos sofistas da segunda geração, como Cálicles, Trasímaco e Crítias, a sofística evoluiu rumo à "erística", puro exercício retórico de persuasão.

O caráter pejorativo que posteriormente adquiriu o termo sofista deve-se sobretudo às severas críticas que Sócrates, Platão e Aristóteles formularam contra o movimento. Aristóteles definiu a sofística como a "arte da sabedoria aparente" e acusou os sofistas de serem simples comerciantes do saber. No século XIX, Hegel reconheceu os sofistas como mestres da Grécia e iniciou a revisão crítica de seu pensamento.

Estudiosos posteriores assinalaram que Platão e seu mestre Sócrates -- contemporâneo e grande adversário dos sofistas -- embora ressaltassem o caráter artificial da retórica persuasiva, atacavam basicamente as teses relativistas da sofística inicial. Outros concluíram que o pensamento de Sócrates e Platão não teria sido possível sem o precedente dos sofistas.

     
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