Henri Bergson
(1859 - 1941)

A filosofia de Bergson dominou a França entre 1900 e 1914 e mesmo após a primeira guerra mundial. Depois, essa influência entrou em acentuado declínio, o que não impediu que em 1927 o Prêmio Nobel de literatura fosse atribuído ao filósofo.

Filho de judeus de origem polonesa, Henri-Louis Bergson nasceu em Paris em 18 de outubro de 1859. Apesar de demonstrar notável aptidão para as ciências, optou pela filosofia. Lecionou em Angers (1881-1883) e depois, até 1888, em Clermont-Ferrand. Doutor em letras desde o ano seguinte, quando retornou a Paris, foi professor no Liceu Henri IV, na École Normale Supérieure e no Collège de France.

Doutrina

A filosofia de Bergson se constrói sobre quatro idéias fundamentais: a intuição, a duração (durée), a memória e o impulso (élan) vital. E a evolução de seu pensamento situa-se entre a intenção de libertar-se do racionalismo e cientificismo do fim do século XIX e um interesse, muito peculiar, pela vida e a força criadora do espírito. Tanto Essai sur les données immédiates de la conscience (1889; Ensaio sobre os dados imediatos da consciência) quanto Matière et mémoire, essai sur la relation du corps à l'esprit (1896; Matéria e memória, ensaio sobre a relação do corpo com o espírito) abordam o problema da inserção do espírito no mundo material, postulando que o passado se conserva na memória em sua integralidade e que o cérebro apenas filtra as lembranças que são úteis às ações do presente.

Em Le rire (1900; O riso), Bergson procura determinar os "processos de fabricação" do cômico, localizando-os no encontro da inteligência de quem ri com a eventual postura de um ser vivo que se comporta como autômato. L'Évolution créatrice (1907; A evolução criadora), sua obra mais importante, estabelece que a duração é o tempo específico de tudo aquilo que existe, seja espírito ou matéria, e não se dobra às injunções da finalidade nem segue rotas mecânicas, por ser espontaneidade pura ou impulso vital. Incapaz de apreensão pelo raciocínio analítico, a duração só pode ser captada pela intuição -- essa espécie de simpatia intelectual pela qual nos transportamos ao interior de um objeto para coincidir com aquilo que ele tem de único e, por conseguinte, de inexprimível.

A última das obras mais destacadas do filósofo foi Les deux sources de la morale et de la religion (1932; As duas fontes da moral e da religião), que confronta duas morais, definidoras de dois tipos de sociedade: a "moral fechada", que emana das imposições sociais, forçando a pessoa ao automatismo e à rotina até por fim esmagá-la; e a "moral aberta", representada pelos místicos que escapam às pressões externas e, por sua capacidade geradora de vida, tornam-se participantes da obra da criação.

Posição na história da filosofia. O bergsonismo foi um esforço para que o espiritualismo revivesse e se tornasse mais forte, diante dos ataques de que era alvo por parte dos racionalistas. A oposição entre espaço e duração pode ser considerada a viga mestra dessa filosofia que, opondo o dinamismo do espírito à inércia da matéria, tentou lutar contra as pretensões da ciência moderna.

Bergson mostrou o que há de enganador no conceito científico de tempo. É por fabricar seus dados temporais que a ciência se revela capaz de medir o tempo e fazê-lo entrar em seus cálculos. Ao contrário do tempo da ciência, a duração vivida é qualitativa, e não quantitativa. A mesma hora do relógio pode parecer interminável, se ocupada apenas pelo tédio ou a espera, ou dar a idéia de ser um simples instante, se estiver subjetiva e psicologicamente preenchida de sensações intensas. A ciência, portanto, não mede a duração exata, mas uma duração previamente traduzida na linguagem do espaço. Identificando quantidades de tempo com espaços percorridos pelo ponteiro no mostrador, nossos relógios fabricam um tempo mensurável e homogêneo. No entanto, os instantes da duração, tomados em si mesmos, não se justapõem, formam uma bola de neve que não mais permite reconhecer as partes que se agregam. Ora, medir é contar num todo as partes iguais à unidade. Sendo assim, toda uma parte da realidade, a que envolve a duração e o espírito, escapa à apreensão da ciência. Bergson admitiu a legitimidade da ciência no terreno dos sólidos, das coisas naturalmente mensuráveis. Mas esse terreno do estático, por oposição ao dinâmico, constitui uma realidade menos elevada que a do terreno do espírito: o homem pode procurar dominá-lo, devido a sua utilidade prática, mas não é aí que encontrará a verdade.

Em 1914, Bergson interrompeu suas aulas no Collège de France, que desde 1900 haviam sido intensamente concorridas. Durante a primeira guerra mundial, desempenhou funções diplomáticas. Em 4 de janeiro de 1941, faleceu em Paris.

     
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