Michel de Montaigne
(1533 - 1592)

Com seus Essais (Ensaios), Montaigne criou não somente uma nova forma literária, como também exerceu profunda influência sobre o pensamento moral europeu dos séculos XVII e XVIII.

Michel Eyquem de Montaigne nasceu no castelo de Montaigne, perto de Bordéus, França, em 28 de fevereiro de 1533. Seu pai era um próspero comerciante com título de nobreza e a mãe vinha de uma família de judeus espanhóis convertidos ao catolicismo. Educado por um preceptor que lhe ensinou como primeira língua o latim, recebeu formação posterior no colégio Guyenne de Bordéus e formou-se em direito em 1550, possivelmente em Toulouse. Os 13 anos seguintes, quando foi conselheiro do Tribunal de Périgueux e do Parlamento de Bordéus, lhe deixaram desagradáveis recordações de instituições jurídicas bárbaras e condenações, a seu ver, criminosas.

Em 1569, Montaigne publicou Théologie naturelle (Teologia natural), tradução de uma obra de Ramón Sabunde, filósofo espanhol do século XV a quem dedicaria um estudo nos Essais. Essa tradução, que iniciara a pedido do pai, despertou em Montaigne o desejo de expor por escrito seu próprio pensamento. Assim, depois de publicar em Paris as obras do grande amigo Étienne de La Boétie, morto anos antes, recolheu-se em 1571 a seu castelo e deu início à redação dos Essais, nos quais trabalharia durante toda a vida. Como pensador respeitado e integrante da facção moderada do partido católico, interrompeu seu isolamento para participar de missões conciliadoras durante as lutas religiosas da época.

A primeira edição dos Essais, constituída de dois livros divididos em 94 capítulos, apareceu em 1580. Os primeiros capítulos são curtos, relativamente impessoais, inspirados em anedotas seguidas de breves conclusões. Alguns tratam de questões que interessaram ao autor na época, como a ambição, a dor e a morte. Inicialmente dominados pela idéia da vida como preparação para a morte, os ensaios evoluíram para um ceticismo radical sobre a natureza humana e sobre a validade de todo tipo de conhecimento.

Em 1581 Montaigne empreendeu uma longa viagem pela Suíça, Alemanha e Itália, que relatou num diário de viagem, inédito até 1774. Em Roma, recebeu a notícia de que havia sido eleito prefeito de Bordéus, cargo que desempenhou por quatro anos com competência e diplomacia. Entretanto, apesar do equilíbrio de suas relações com Henrique III e Henrique de Navarra, não escapou de uma breve passagem pela Bastilha.

Montaigne publicou edições ampliadas dos Essais e, em 1588, lançou uma nova edição a que acrescentou um terceiro tomo e numerosas notas complementares. Seu ceticismo aparecia então mitigado pela possibilidade de estabelecer uma lei moral universalmente válida, cujo caminho seria o estudo da própria subjetividade, "pois cada homem traz dentro de si a forma integral da condição humana". Diante das desconfianças que produziam suas boas intenções de mediação com os protestantes, Montaigne passou os últimos anos retirado da vida pública. Em sua companhia mantinha a jovem Maria de Gournay, que tomara sob sua proteção. Deve-se a ela a edição póstuma dos Essais, em 1595.

Grande pensador, sem no entanto construir uma filosofia sistemática, Montaigne teve sua obra enaltecida por livres-pensadores e severamente criticada por Bossuet e Malebranche. Suas análises psicológicas introspectivas influenciaram toda a literatura posterior, particularmente o gênero ensaístico, com seu estilo vivo e aguda ironia. Seus ensaios pedagógicos forneceram a base para Émile, de Rousseau. A obra de Montaigne foi incluída no Index librorum prohibitorum em 1676, e reabilitada somente com o advento do Iluminismo. O filósofo morreu no castelo em que nascera, em 13 de setembro de 1592.

     
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