Dialética Desde os gregos até o fim da Idade Média, a dialética esteve identificada com a lógica. Ao longo da história, porém, enriqueceu muito seu significado, até tornar-se, com Hegel e Marx, uma das categorias mais importantes do pensamento filosófico. Com a mesma raiz da palavra diálogo, dialética pode significar dualidade, mas também oposição de razões, atitudes ou argumentos. A idéia de oposição, antítese ou contradição, porém, embora essencial à noção de dialética, não esgota seu significado. Para os filósofos gregos, era essencialmente um método lógico de perguntas e respostas que permitia chegar à conclusão verdadeira. Modernamente, adquiriu sentidos e inflexões diferentes e tornou-se uma espécie de pedra filosofal do nosso tempo, uma maneira dinâmica de interpretar o mundo, os fatos históricos e econômicos e as próprias idéias. Em Sócrates, a dialética inclui três momentos: a hipótese, definição prévia e provisória do que se pretende conhecer; a ironia, interrogatório que leva o interlocutor a reconhecer a ignorância do que pretendia saber; e a maiêutica, arte de dar à luz as idéias adormecidas no espírito do interlocutor. Podia ser utilizada como simples método de debate, ou para a avaliação sistemática de definições ou ainda para investigação e classificação das relações entre conceitos gerais e específicos. Analisando os diálogos de Platão, firmados no proceder dialético, nota-se o limitado alcance do método, em que a conclusão é apenas uma repetição, com termos diferentes, da proposição inicial. Para Aristóteles, a dialética platônica é um método menor quando confrontado com os da ciência. Os pensadores renascentistas e racionalistas, de modo geral, não tiveram grande apreço pela dialética, que consideravam o método próprio das grandes summas teológicas escolásticas. No fim do século XVIII, Kant a utilizou nesse sentido, transferindo para o plano transcendental a eficácia da dialética. Dialética Hegeliana Na primeira metade do século XIX, Hegel fez da dialética um fator essencial de seu sistema, mas não a concebeu como método ou uso da razão, e sim como um momento da própria realidade. Para ele, a dialética consiste na contínua tendência dos conceitos a se transformarem em sua própria negação, como resultado do conflito entre seus aspectos contraditórios internos, o que dá origem a outros conceitos. Em Hegel, a dialética é, portanto, a estrutura do real que, entendido como processo, envolve três momentos: o da identidade, do ser em si (tese); o da negação, do ser para si (antítese); e o da negação da negação, do ser em si e para si (síntese). O momento propriamente dialético do processo é o da negação, implícito no anterior, da finitude do dado. O processo, porém, só é dialético porque não se detém na negação, que o imobilizaria. Pela negação da negação, alcança nova posição, ou positividade, que contém os momentos anteriores e os supera, na totalização ou síntese. Assim, a dialética se converte na manifestação da mudança contínua da realidade e do vir-a-ser do espírito absoluto -- eixo do sistema hegeliano -- na história. Materialismo Dialético A idéia de dialética é central também na teoria de Marx que, diferentemente de Hegel, não a vê como uma dinâmica especulativa, traduzida no âmbito das idéias ou conceitos, mas como instrumento que permite a compreensão adequada dos fenômenos históricos, sociais e econômicos reais. Dando conteúdo concreto à formulação abstrata de Hegel, Marx entende a contradição como mola do processo histórico, tensão que o propulsiona e o faz progredir, em constante mudança e transição. |