Finalismo Os filósofos em geral recomendam o máximo cuidado no uso do termo finalismo, devido à possibilidade de mal-entendidos, suscitada pela multiplicidade de sentidos das palavras fim e finalidade. Doutrina que admite a causa final, ou finalidade, como explicadora e ordenadora dos acontecimentos naturais ou culturais. Para o finalismo todo o universo, na multiplicidade de seus fenômenos, humanos ou não humanos, tende para um fim imediato ou mediato, próximo ou longínquo, subjacente às manifestações concretas e isoladas de necessidade e de causalidade. Dessa forma, os finalistas vêem na finalidade a explicação do mundo e da vida, e admitem um plano do universo, originado por uma força, causa, princípio ou personalidade superior, arquiteto e criador, que é a causa suprema, exterior à natureza. Anaxágoras foi o primeiro a elaborar uma doutrina finalista do mundo, ordenado segundo a melhor disposição para o homem. Platão, no diálogo Fédon, admite que, segundo Anaxágoras, o nous, ou espírito, é o organizador e a causa de todas as coisas, lugar de todas as verdadeiras causas; as demais, naturais e concretas, são simples causas secundárias. Aristóteles, na Metafísica, reconhece Anaxágoras como o criador da doutrina, porém dá a esta uma elaboração mais sistemática e coerente. A questão é por ele tratada no conjunto de sua obra (Física, Da alma, Metafísica e Ética a Nicômaco). Os estóicos colocam o homem no centro da doutrina finalista e vêem a ordenação das coisas como a melhor forma de satisfazer a vida humana na terra. Os homens e os deuses, únicos seres dotados de razão, seriam superiores aos demais, e para eles foram criados o mundo e tudo o que nele existe. Santo Tomás de Aquino retomou a doutrina de Aristóteles e levou até as últimas conseqüências as diversas possibilidades de conceituação do fim e da finalidade, na natureza, na moral e na teologia. Os fins ou finalidades na filosofia tomista são: (1) limite ou terminação; Na história da filosofia, o finalismo ou teleologismo opõe-se ao causalismo defendido por Demócrito, Descartes e Spinoza, entre outros. Os sistemas de Leibniz, Schopenhauer e Rudolf Hermann Lotze procuraram, de certa forma, conciliar as duas correntes de pensamento, de forma a distinguir um finalismo interno e um finalismo externo. O primeiro seria inerente e imanente aos próprios fatos, à maneira de um encadeamento causalista autônomo, numa espécie de harmonia independente. Na filosofia contemporânea, sem acrescentar nada de novo à conceituação histórica do finalismo, Bergson opinou que tanto essa conceituação quanto o mecanismo causalista devem ser rejeitados pelo que apresentam de rigidamente determinantes da realidade, que neles se encontra previamente disposta, segundo um plano ou programa traçado de antemão. O pensamento científico moderno e contemporâneo rejeita a explicação finalista da natureza, desde as primeiras manifestações de Francis Bacon, mas também com Descartes, Spinoza, os iluministas, o positivismo e o empirismo lógico. O finalismo deixou de ser uma hipótese de trabalho válida como explicação científica, quer nas ciências naturais, quer na psicologia, que substituiu a noção de causa final pela de motivação e de comportamento. Nessa acepção, o finalismo prestigia a anterioridade e a superioridade da tendência (necessidade, desejo, vontade) em relação à ação mecânica. |