Filosofia Analítica Dentro do pensamento contemporâneo, o que se costuma chamar de filosofia analítica não é exatamente um movimento homogêneo, e sim um conjunto de tendências. Mas essa denominação genérica é plenamente justificável, na medida em que, diante dos problemas filosóficos, essas tendências partilham uma determinada atitude que não tinha sido desenvolvida anteriormente. O que faz essas correntes parecerem aparentadas entre si é a ênfase em ver a filosofia, antes de tudo, como análise -- ou seja, elucidação, esclarecimento. Nesse aspecto, seu interesse voltou-se fundamentalmente para a lógica e a análise dos conceitos subjacentes à linguagem, considerando que muitos dos dilemas filosóficos habituais podem ser resolvidos -- ou deixados de lado, por insolúveis -- mediante o estudo dos termos em que estão expostos. Por suas concepções, a filosofia analítica se liga à tradição empirista anglo-saxônica. Não é de estranhar, portanto, que seu início se identifique com dois filósofos britânicos de Cambridge, Bertrand Russell e G. E. Moore, ambos nascidos na década de 1870, e que o enfoque dado por eles à percepção se vincule estreitamente ao proposto por John Locke no século XVII. Bertrand Russell se caracterizou por abordar os problemas filosóficos através da lógica formal e por considerar que o único meio de adquirir conhecimento do mundo eram as ciências físicas. A teoria de Russell estava profundamente relacionada com a dos positivistas lógicos da escola de Viena, para os quais a tarefa principal da filosofia era distinguir entre as afirmações demonstráveis a partir da lógica e dos dados empíricos e as que não passavam de enunciados metafísicos indemonstráveis, ou "pseudoproposições". Moore, ao contrário, nunca achou que fosse preciso empregar a lógica formal ou converter a filosofia em ciência. Defendeu o senso comum frente à grandiloqüência metafísica e sustentou que o caminho adequado para resolver um problema filosófico consistia em perguntar qual era sua causa. Figura básica na história da filosofia analítica, com dois períodos criativos diferenciados e mesmo antitéticos, foi o lógico austríaco Ludwig Wittgenstein, que ensinou em Cambridge. Sua primeira fase é representada pelo Tractatus logico-philosophicus (1922; Tratado lógico-filosófico), no qual defendia um atomismo lógico. No nível lingüístico, as proposições são os átomos, ou seja, os enunciados mais simples se podem fazer sobre o mundo. Sua segunda fase foi marcada pelas Philosophische Untersuchungen (1953; Pesquisas filosóficas), publicadas depois da morte do autor,que nelas adotou pontos de vista diametralmente opostos aos anteriores. Nessa segunda obra, ele sustentou que a linguagem é um instrumento que pode ser empregado para um número indefinido de propósitos, uma instituição humana não sujeita a regras. Os "jogos da linguagem" são usos lingüísticos e correspondem à função pragmática e ativa da linguagem. As idéias de Wittgenstein nessa etapa foram acompanhadas por pensadores como os ingleses John Austin e Gilbert Ryle, os quais enfatizaram a função social da linguagem e a usaram como campo de investigação para o estudo dos processos mentais do indivíduo. A gramática transformacional generativa do americano Noam Chomsky, que deu novo rumo às teorias lingüísticas, por sua vez adotava pontos desenvolvidos por Austin e Ryle. O enfoque mais positivista da filosofia analítica também permanece latente em diversos pensadores, entre os quais outro americano, Willard Van Orman Quine. |