Anaxágoras
Nascido em Clazômenas por volta do ano 500 a.C., na juventude Anaxágoras foi para a capital da Ática, onde logo se tornou a figura principal do grupo de intelectuais reunidos em torno de Péricles, governante da cidade. Sua obra, cuja interpretação, em parte por causa da escassez de fragmentos, é muito controvertida, pode ser situada na confluência entre a tradição milésia e o pensamento de Parmênides. Com os filósofos de Mileto, sustentava que a experiência sensorial põe o ser humano em contato com uma realidade cambiante, cuja constituição última ele pretendia encontrar. Com Parmênides, afirmava que só o ser é e o não-ser não é, porque ao ser, enquanto totalidade, não se pode acrescentar nem tirar nada. Considerava, em conseqüência, que "nada vem à existência nem é destruído, tudo é resultado da mistura e da divisão". A cambiante pluralidade do real é simplesmente o produto de ordenações e reordenações sucessivas, já não dos quatro elementos tradicionais -- água, terra, fogo e ar --, mas sim de "sementes", ou "homeomerias", das quais há tantos tipos quantas classes de coisas existem. Nada pode chegar a ser aquilo que não é ou deixar de ser o que é: "como poderia chegar a ser carne aquilo que não é carne ou pêlo aquilo que não é pêlo?". Anaxágoras, contudo, defendeu também a idéia de que, junto à matéria, existe um princípio ordenador, um nous ou "inteligência", como causa do movimento. Por isso foi chamado de o primeiro dualista. Platão saudou com entusiasmo essa inovação, mas criticou o filósofo de Clazômenas por fazer uso insuficiente dela. Segundo interpretava Platão, Anaxágoras recorria a essa tese apenas para explicar a origem do movimento no universo, produzido esse movimento, o universo ficava abandonado a forças mecânicas. Não é claro que as coisas se passassem assim, nem se o nous era concebido como algo plenamente imaterial ou se, ao contrário, tinha uma certa materialidade, mesmo que sutil. De fato, as opiniões científicas de Anaxágoras, que se chocaram com as concepções religiosas da época, lhe custaram ser julgado por ateísmo. Graças à ajuda de Péricles, conseguiu refugiar-se em Lâmpsaco, onde morreu por volta de 428 a.C. |