George Berkeley
George Berkeley nasceu em Dysert, no condado de Kilkenny, Irlanda, em 12 de março de 1685. Aos 15 anos ingressou no Trinity College da Universidade de Dublin, onde depois de formado permaneceu como professor até 1713. Ordenado ministro anglicano em 1709, foi nomeado bispo da diocese de Cloyne, Irlanda, em 1734. A filosofia de Berkeley pode ser dividida em três partes: a primeira está contida em An Essay Towards a New Theory of Vision (1709; Um ensaio para uma nova teoria da visão), cuja tese central diz que a apreensão perceptiva dos objetos se faz pelo sentido do tato e não pela visão. A segunda se caracteriza pela elaboração da teoria imaterialista, descrita em Treatise Concerning the Principles of Human Knowledge (1710; Tratado sobre os princípios do conhecimento humano) e em Three Dialogues Between Hylas and Philonous (1713; Três diálogos entre Hylas e Philonous). Em Siris (1744) está contida a terceira parte, onde ele expõe suas concepções neoplatônicas. A teoria de Berkeley sobre a visão pretende demonstrar a natureza da percepção visual da distância, da grandeza e da posição dos objetos. Segundo ela, o fato de percebermos visualmente os objetos deve-se a uma associação entre certas sensações visuais e as idéias de distância, grandeza e posição proporcionadas pelo tato. À visão corresponderia apenas a percepção da luz e das cores. A doutrina imaterialista, que constitui o núcleo da filosofia de Berkeley, nega enfaticamente a possibilidade de existirem idéias abstratas. Na verdade, nunca concebemos um triângulo que não seja isósceles ou equilátero, ou seja, correspondente a uma forma previamente percebida pelos sentidos a partir de um objeto particular. A generalidade que se pode atribuir às idéias é a de sua significação: a idéia de um triângulo pode servir para representar qualquer triângulo. Essa generalidade, no entanto, não pode ser tomada como atributo da própria idéia, mas apenas como um sistema de relações com outras idéias do mesmo gênero. Sumariamente, a doutrina imaterialista consiste na negação da matéria, negação que constitui o que Berkeley denominou "novo princípio". Berkeley nunca negou a existência dos objetos. De fato, eles existem, mas somente na condição de objetos percebidos. O que se nega é a substância material, já atingida por um processo de crítica que prolonga a negação das qualidades secundárias como qualidades de existência independente do perceptor que as apreende. Também as qualidades primárias dos objetos não têm existência independente. Assim, a existência das coisas, conceituadas como objetivação de idéias, supõe a dos espíritos. No entanto, Berkeley não entende os espíritos que dão garantia a esse processo como espíritos finitos, daí sua concepção platônica do espírito absoluto. Ao postular a existência de Deus como espírito infinito e garantia derradeira do processo de conhecimento, Berkeley inverte a fórmula do senso comum. Ordinariamente, se acredita que todas as coisas são conhecidas ou percebidas por Deus porque se crê em sua existência. Berkeley, no entanto, concluiu a necessidade da existência do espírito absoluto pelo fato de que as coisas sensíveis devem ser percebidas por ele, sem o que elas desapareceriam. A filosofia de Berkeley não teve muita repercussão em seu tempo, mas muitos de seus princípios são reencontrados no empirismo de David Hume e no idealismo alemão. Depois de viver vários anos em Londres, Berkeley tentou, infrutiferamente, fundar um colégio nas Bermudas para a educação de filhos de colonos e indígenas. Transferiu-se logo para Newport, nos Estados Unidos, onde pretendia implantar o ensino superior. Depois de um novo período na Irlanda, morreu em Oxford em 14 de janeiro de 1753. |