Guilherme de Occam
Guilherme de Occam nasceu em Occam, nos arredores de Londres, por volta de 1285. Ingressou ainda jovem na ordem franciscana, estudou e ensinou filosofia na Universidade de Oxford, onde redigiu sua obra mais famosa, uma série de comentários sobre as Sententiarum Libri (Sentenças) do teólogo Pedro Lombardo. Nesses textos, em grande parte reunidos no volume conhecido como Ordinatio, expôs a essência de seu pensamento, que parte do pressuposto de que todo conhecimento racional tem base na lógica, de acordo com os dados proporcionados pelos sentidos. Como estes só conhecem indivíduos concretos (por exemplo, "árvores"), os conceitos universais não passam de meios lingüísticos para expressar uma idéia e carecem de realidade física. Defensor da intuição como ponto de partida para o conhecimento do universo, Occam levou às últimas conseqüências o pensamento de Duns Scotus. Um dos princípios que adotou, a lei da economia, ficou conhecido como "navalha de Occam": estabelece que "as entidades não devem ser multiplicadas além do necessário", pois a natureza é por si econômica e não se multiplica em vão. Em outras palavras, não se deve aplicar a um fenômeno nenhuma causa que não seja logicamente dedutível da experiência sensorial. A regra, inspirada na economia medieval, foi usada pelo filósofo para eliminar muitas das entidades com que os pensadores escolásticos explicavam a realidade. Occam realizou assim a separação entre razão e fé, entre filosofia e teologia. Ao defender que só a experiência permite conhecer a causa das coisas, antecipou as vertentes do cartesianismo, do empirismo inglês, do criticismo kantiano e da ciência moderna. A reação provocada por suas idéias obrigou-o a deixar Oxford antes do doutoramento em teologia. Mudou-se para a cidade francesa de Avignon. Adversário do Vaticano na discussão sobre o poder temporal da igreja, foi denunciado como herege ao papa João XXII. Condenado, refugiou-se em Pisa e, mais tarde, acompanhou o imperador Luís da Baviera a Munique, onde continuou seus ataques ao poder papal. Nessa época, redigiu diversos textos político-religiosos. Abordou temas como a infalibilidade do papa e defendeu a tese de que a autoridade papal é limitada pelo direito natural e pela liberdade dos cristãos, afirmada nos Evangelhos. Argumentou que um cristão não contraria os ensinamentos evangélicos ao se colocar ao lado do poder temporal em disputa com o papa. Foi o primeiro filósofo a personificar o espírito da modernidade e pagou essa ousadia com a excomunhão, mas manteve a mesma atitude diante dos papas que sucederam a João XXII. Occam dedicou seus últimos anos ao estudo e à meditação num convento de Munique, onde morreu em 3 de abril de 1349. |