Jean-Paul Sartre
Jean-Paul Sartre nasceu em Paris em 21 de junho de 1905. Franzino e estrábico, teve uma infância solitária e muito cedo começou a escrever. Na École Normale Superieure conheceu a escritora Simone de Beauvoir. Embora resistente ao que chamava "casamento burguês", iniciou então com ela uma relação afetiva que se prolongaria até o fim de sua vida. Após a graduação, em 1929, lecionou em diversos colégios de Havre, Laon e Paris. Adquiriu notoriedade com a publicação do romance La Nausée (1938; A náusea), escrito em forma de diário, que descreve a repulsa sentida pelo protagonista ao tomar consciência do próprio corpo. Usando o método fenomenológico do filósofo alemão Edmund Husserl, que propõe a cuidadosa e imparcial descrição dos fatos, sem apelo à dedução, escreveu sucessivamente L'Imagination (1936; A imaginação), Esquisse d'une théorie des émotions (1939; Esboço de uma teoria das emoções) e L'Imaginaire: Psychologie phénoménologique de l'imagination (1940; O imaginário). Durante a segunda guerra mundial, convocado pelo Exército francês, foi por um ano prisioneiro dos alemães. A principal exposição da filosofia existencialista surgiu em 1943, com L'Être et le néant (O ser e o nada), que contrapõe consciência e ser: como a consciência é imaterial, escapa ao determinismo e, assim, o homem é absolutamente livre para escolher. Essa mesma liberdade, que não pode negar-se a si mesma, gera o sentimento de que a escolha carece de importância e está na base da angústia. O texto evidencia sobretudo a questão da liberdade individual em conflito com a convivência social. Em seu breve tratado L'Existencialisme est un humanisme (1946; O existencialismo é um humanismo), o conceito de liberdade passa a ser apresentado não mais como um valor em si, que prescinde de objetivo ou propósito, mas como instrumento dos esforços conscientes que implicam responsabilidade social. Os romances de Sartre passaram a difundir essa mensagem ética. É o caso de Les Chemins de la liberté (1945-1949; Os caminhos da liberdade), inicialmente planejado para ser uma tetralogia. O projeto foi abandonado após o terceiro volume, quando Sartre, desacreditando das formas puramente literárias como meio de comunicação, dedicou-se ao teatro. Em 1946 fundou, com Simone de Beauvoir, a influente revista Les Temps Modernes. Nos anos seguintes, desenvolveu intensa atividade política, marcada pela aproximação e posterior ruptura com o Partido Comunista Francês, o que o levou a adotar uma postura intelectual independente, dedicada a elaborar uma forma pessoal de socialismo. Essa concepção revelou-se em obras teatrais como Huis-Clos (1944; Entre quatro paredes), Les Mains sales (1948; As mãos sujas), Nekrassov (1955) e Les Séquestrés de Altona (1959; Os seqüestrados de Altona); em diversos ensaios literários, como Saint-Genet, comédien et martyr (1952; São Genet, comediante e mártir); e encontrou sua expressão filosófica em Critique de la raison dialectique (1960; Crítica da razão dialética). Essa obra apresenta o marxismo como uma filosofia totalizante, em permanente evolução interna, da qual o existencialismo constitui uma forma de expressão ideológica. Em 1964, ano em que publicou a autobiografia Les Mots (As palavras), Sartre recusou o Prêmio Nobel de literatura, que lhe havia sido outorgado. Durante toda a década de 1960 esteve absorvido na elaboração de um extenso estudo sobre o romancista Gustave Flaubert. Após a publicação do terceiro volume, L'Idiot de la famille (1972), abandonou quase que por completo os escritos em favor das atividades políticas. Jean-Paul Sartre, que ficou cego em seus últimos anos de vida, morreu em Paris, em 15 de abril de 1980. Seus funerais atraíram cerca de 25.000 pessoas. |