Nicolau Maquiavel
O estadista e escritor Nicolau Maquiavel (em italiano, Niccolò Machiavelli) nasceu em Florença em 3 de maio de 1469. A partir de 1498 serviu como chanceler e, mais tarde, secretário das Relações Exteriores da República de Florença. Tais cargos, apesar dos títulos, eram modestos e limitavam-se a funções de redação de documentos oficiais. Ofereceram-lhe, porém, a oportunidade de vivenciar os bastidores da atividade política. Ocasionalmente, Maquiavel desempenhou missões no exterior (França, Suíça, Alemanha) e em 1502-1503 passou cinco meses como embaixador junto a César Borgia, filho do papa Alexandre VI, cuja política enérgica e sem escrúpulos o encheu de admiração. Em 1512, no entanto, quando os Medici derrubaram a república e retomaram o governo de Florença, Maquiavel foi destituído de seu posto e preso. Exilado na propriedade de San Casciano, perto de Florença, ali escreveu Il principe (1513-1516; O príncipe), em que expôs a teoria política que lhe deu fama. Em 1519, anistiado, voltou a Florença para exercer funções político-militares. Durante o exílio, escreveu também L'arte della guerra -- em que preconiza a extinção das forças armadas permanentes, por ameaçarem a república, e a criação de milícias populares -- e os Discorsi sopra la prima deca di Tito Livio (Comentários sobre os primeiros dez livros de Tito Lívio), em que analisa as vicissitudes da história romana e compara-as com as de seu próprio tempo. As duas obras são indispensáveis à correta interpretação do pensamento que percorre as páginas de Il principe. Entre 1519 e 1520, Maquiavel escreveu a maior comédia da literatura italiana, La mandragola (1524; A mandrágora), como "divertimento em tempos tristes". Peça de alto teor erótico e humor sarcástico, dela se disse que "é a comédia da sociedade de que Il principe é a tragédia". Em 1520 Maquiavel tornou-se historiador oficial da república e começou a escrever as Istorie fiorentini (1520-1525; Histórias de Florença), tratado em estilo clássico, consagrado como primeira obra da historiografia moderna. O Príncipe Foi, porém, com o pequeno livro Il principe que Maquiavel revolucionou a teoria do estado e criou as bases da ciência política. Homem do Renascimento, ao romper com a moral cristã medieval, estudou com objetividade os meios e fins da ação política, com base na observação estrita de sua realidade. Elaborou assim uma teoria política realista e sistemática, em que pela primeira vez se separava a moral dos indivíduos da moral (ou razão) de estado. Maquiavel foi, desse modo, o primeiro teórico moderno, o primeiro técnico da política. Indignado com a decadência política e moral de sua terra, o autor dirige conselhos a um príncipe imaginário, retrato algo fantasioso de César Borgia, para conquistar o poder absoluto, acabar com as dissensões internas e expulsar os "bárbaros" estrangeiros do país. Prosador admirável, de estilo um tanto latinizante e seco, embora irônico, recomenda todos os meios, inclusive a mentira, a fraude e a violência. No complexo de sugestões apresentadas ao príncipe originaram-se as práticas políticas conhecidas como maquiavelismo. É necessário, porém, distinguir entre essa noção vulgar que se passou a ter de "maquiavelismo" e a teoria de Maquiavel. Nesta, o que sobressai é o realismo iniludível de quem se pautou pelos fatos, documentos e experiências, não nas idéias ou ideais filosóficos. Desde a antiguidade o poder foi freqüentemente tomado, mantido ou perdido segundo os meios apontados por Maquiavel, mas antes dele ninguém tomou consciência real e prática das características inerentes ao fenômeno político e suas manifestações. De seu trabalho se depreende o princípio segundo o qual, em política, os fins justificam os meios e a ética do estado é a do bem público: em sua obra, o príncipe tudo pode, e tudo deve fazer, se tiver por meta a felicidade de seu povo. Caso aja de outra forma, é derrotado por outro príncipe. Em 1527, o saque de Roma pelo imperador Carlos V, do Sacro Império Romano-Germânico, restabeleceu a república em Florença. Maquiavel, visto como favorito dos Medici, foi excluído de toda atividade política. Pobre, desiludido e amargurado, morreu na cidade natal em 22 de junho de 1527. |