Estrutura


Assim como o pensamento é uma associação de idéias, a língua é uma associação de palavras. Há mesmo um estreito paralelismo entre ambas as associações, a tal ponto que Aristóteles, desejando estudar as relações lógicas entre as idéias, não duvidou poder examinar as relações sintáticas entre as palavras. Nem é por outra razão que a análise sintática chegou até os dias atuais com o nome de "análise lógica". Realmente, para Aristóteles, o logos tinha dois aspectos: o interior, que se confundia com o pensamento, e o exterior, que era propriamente a língua. Não tardou muito, no entanto, para que seus discípulos separassem os dois campos de estudos, distinguindo a lógica da gramática. Eles verificaram que se a língua reflete o pensamento, por vezes o faz de modo muito imperfeito, como um espelho deformante. Se a cada idéia corresponde uma palavra, há palavras que não correspondem a nenhuma idéia. Não cabe, no entanto, acusar Aristóteles de grosseria de observação, e por dois motivos: primeiro, porque não parece que ele pretendesse escrever alguma gramática; segundo, porque, colocando-se do ponto de vista lógico, as palavras eram para ele os nomes (onómata) e os verbos (rhémata). Tudo o mais não passava de ligações (sýndesmoi).

Todas as línguas são instrumentos orais, e se compõem de vocábulos. Estes, não raro, são extremamente complexos, mas ao espírito humano desempenham o papel de elementos lingüísticos. Desde cedo, nos primórdios da escrita, os homens procuraram destacar os vocábulos, individualizando-os, separando-os por meios convencionais. O vocábulo, no entanto, não é geralmente um elemento simples. Compõe-se de sílabas, e estas de fonemas. (No chinês e em seus dialetos, todos os vocábulos são de uma única sílaba: vocábulo e sílaba coincidem.) Fonemas são sons elementares, alcançados com as articulações mais simples. Ainda assim, os registros feitos com aparelhos especializados demonstram que a simplicidade dos fonemas só existe na aparência. Por sua vez, os vocábulos guardam entre si relações estreitas e necessárias, a que se dá o nome de sintaxe. Um conglomerado sintático constitui a frase.

O conhecimento de uma língua implica, pois, o estudo de três domínios: o léxico (que diz respeito ao vocabulário), o fonético (que se refere à pronúncia) e o sintático (relativo à construção). Além disso, cada língua tem em sua estrutura fatos particulares de suma importância.

Nas línguas indo-européias, como nas semíticas, os vocábulos são extremamente variáveis. Um verbo no português tem mais de cinqüenta formas simples; no latim e no grego, esse número pode ser multiplicado algumas vezes. Nomes e pronomes são riquíssimos de formas. Tudo isso constitui a morfologia.

Nos dialetos chineses, nos quais não há morfologia, pois as palavras são invariáveis, importa fundamentalmente conhecer a altura musical da palavra-monossílabo. Sem a altura conveniente, não se diz o que se quer. A palavra "má", por exemplo, conforme a nota musical em que é proferida, pode significar "mãe", "cavalo", "linho" ou pode ser um sinal de interrogação.

Entre algumas línguas indígenas sul-americanas há palavras que só podem ser usadas pelos homens, enquanto outras são privativas das mulheres. No tupi-guarani (onde o fato não é tão notável, talvez porque se trate de língua geral sistematizada pelos jesuítas) não há diferença entre "filho" ou "filha", já que não existe nela a preocupação de exprimir o sexo. Mas o pai dirá rayra, enquanto a mãe lhes chamará membyra.

Veja também:
Aquisição
Articulação
Evolução
Linguagem e Concepção do Mundo
Línguas
Origem
Relações

     
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