Línguas


Admite-se que primitivamente a espécie humana houvesse concretizado sua linguagem num sistema único de signos, possivelmente orais. No início do século XX, o italiano Alfredo Trombetti acreditou vislumbrar esse tronco comum e publicou L'Unitá d'origine del linguaggio (1905; A unidade de origem da linguagem). Mas como quer que os homens se disseminassem, e viessem a ocupar países estanques, criaram-se sistemas diferentes, denominados línguas.

Língua é pois um instrumento oral de comunicação de pensamentos e sentimentos. Em Cours de linguistique générale (1916; Curso de lingüística geral), o filólogo suíço Ferdinand de Saussure insiste em distinguir a "língua" daquilo a que ele chama "discurso". Disse ele: "Separando a 'língua' do 'discurso', separamos de uma vez: primeiro, o que é social do que é individual; segundo, o que é essencial do que é acessório e mais ou menos acidental." Essa tomada de posição nada acrescentou ao que já se sabia -- uma vez que "discurso" é aquilo que geralmente se conhece pelo nome de "linguagem" nos estudos lingüísticos e literários --, mas teve a vantagem de salientar o papel do indivíduo na utilização desse instrumento social que é a "língua". Realmente, para cada indivíduo falante, a "língua" é um sistema já elaborado, que cumpre respeitar. Apesar disso, a "linguagem" (ou "discurso") em cada indivíduo falante é um princípio ativo da vontade e inteligência que intervém inelutavelmente na "língua" e a modifica. Como os animais e plantas, as línguas nascem, crescem, multiplicam-se e morrem. Tal sucede porque elas refletem a vida interior do homem.

Nenhuma língua consegue manter-se rigorosamente a mesma numa grande extensão territorial. As modalidades que possam apresentar chamam-se em geral dialetos. A língua italiana apresenta diversos dialetos, praticamente línguas estanques (tanto assim que um siciliano não entende um veneziano, a menos que falem literariamente), enquanto a portuguesa é de extrema unidade, e as ligeiras variantes em nada prejudicam o diálogo. Como o conceito de dialeto não é rigorosamente definido, diz-se às vezes que as línguas românicas (português, galego, castelhano, catalão, francês, provençal, italiano, romeno) são dialetos do latim. Não é raro ouvir-se que o galego, falado na Espanha, é dialeto do português, mas isso não é exato. Embora o galego esteja mais próximo do português do que do castelhano, trata-se de uma língua independente.

Os dialetos tanto podem seguir um movimento divergente e virem a constituir línguas novas, como sucedeu com o latim, como podem convergir numa língua única, a exemplo do grego. De fato, até o século IV a.C. o grego apresentava vários dialetos literários, os quais fundiram-se na koiné (língua comum), de que procede o atual romaico, ou grego moderno.

Veja também:
Aquisição
Articulação
Estrutura
Evolução
Linguagem e Concepção do Mundo
Origem
Relações

     
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