Evolução Na segunda metade do século XIX, em conseqüência da publicação da obra de Friedrich Christian Diez intitulada Grammatik der romanieschen Sprachen (1836-1844; Gramática das línguas românicas) prevaleceu a idéia de que as línguas se modificavam segundo um processo biológico inelutável. Ficou demonstrado organicamente como o latim evolveu para importantes línguas românicas, inclusive o romeno. As leis fonéticas chamaram-se leis, como nas ciências naturais, porque foram consideradas, em cada ambiente, imutáveis, inflexíveis. Conforme Montesquieu definira, eram relações necessárias que derivavam da natureza das coisas. As exceções correspondiam a interferências inexplicadas, ou inexplicáveis, que não abalavam os fatos. Mas não tardou que surgissem os neogramáticos (Junggrammatiker), jovens que voltaram contraditoriamente a prestigiar princípios velhos, para os quais a analogia (como tinham sustentado os alexandrinos por volta do século II a.C.) era responsável pelas exceções às leis fonéticas. Atualmente, admitem-se princípios gerais, que se observam em cada região, nas modificações lingüísticas. Tais princípios, no entanto, são contingentes -- vigoram numa época, mas podem ser desprezados em outra, porque são disposições do espírito dominante. As línguas são um produto histórico, mas trabalhadas sempre por fatores psicológicos de diversas naturezas. Outro ponto relacionado com a evolução das línguas é a semântica, o estudo da evolução da significação dos vocábulos, que tem fortes vínculos com a história (que documenta as alterações) e com a psicologia (que as explica e justifica). Saussure insiste na necessidade de separar e classificar os fatos sincrônicos dos fatos diacrônicos, ambos observáveis nas línguas. "É sincrônico tudo quanto se refere ao aspecto estático de nossa ciência; diacrônico, tudo o que diz respeito à evolução". Seus discípulos fizeram disso um ponto essencial nos modernos estudos de lingüística. Como método de trabalho, a distinção é fecunda, mas a verdade é que em cada momento a língua apresenta elementos atuais e elementos passados, numa concomitância incômoda, do mesmo modo que a espécie humana tem, no concerto das nações, indivíduos que se convencionou chamar civilizados, e indivíduos primitivos. O presente testumunha o passado. Se alguém diz "depois", não pode se surpreender se seu vizinho profere "despois", como nossos mais recuados avós. Todos os fatos sincrônicos para a gramática de hoje são diacrônicos para a lingüística de amanhã. Veja também:
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